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A Reforma Protestante não é a responsável pela modernidade


10/11/2013
"Qualquer instituição ou movimento apenas pode ser responsabilizado pelos princípios que sustenta pelas bandeiras que levanta, pelas ideias que proclama. E basta ler os sínodos, as confissões e os escritos dos reformadores para vermos que a loucura do mundo moderno não é defendida por nenhum deles"



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O protestantismo é comumente acusado de ser o responsável pela modernidade e suas mazelas. Principalmente aqueles que se apegam profundamente às raízes tradicionais, tendo tudo o que passou como melhor do que o que há no presente, afirmam que foi a Reforma Protestante quem inaugurou e possibilitou, com suas loucuras e desvarios, o mundo moderno. Lembro-me, ainda, das palavras de Chesterton, que disse que o mundo moderno, por causa do abalo religioso causado pela Reforma, está repleto de antigas virtudes cristãs enlouquecidas. O que ele quis dizer, por um certo prisma, é que a Reforma, ao mesmo tempo que trouxe liberdade religiosa para o homem, lançou-o na perdição de sua própria insanidade.

O problema é que tal acusação não se sustenta, por jogar sobre os ombros da Reforma aquilo que ela não pode ter-se por responsável.

A questão é mais ou menos simples. Pense no próprio Deus e sua criação. Sabemos que Adão foi feito perfeito e sem pecado. E foi criado também com liberdade. Esta liberdade, necessária e permitida, foi, de alguma maneira, a causa de seu pecado e rebelião. No entanto, o próprio homem é o único responsável por aquilo que fez. Ele não pode, como de certa maneira tentou fazer, responsabilizar Deus por aquilo que somente ele cometeu. Ninguém pode dizer que Deus é o responsável pelo pecado humano só porque concedeu liberdade ao homem.

O mesmo raciocínio deve ser feito sobre a Reforma Protestante. O que ela fez foi lançar sobre os homens a responsabilidade de sua liberdade. O que ele fez com essa liberdade depois não pode ser colocado na conta da Reforma. Culpar a Reforma Protestante pelos erros posteriores, guardadas as devidas proporções, seria como culpar Deus pelo pecado de Adão.

Eu não quero dizer que todas as reivindicações e princípios reformados são irretocáveis. Apenas ressalto que se alguma crítica deva ser feita à Reforma, deve se ater às suas bandeiras, seu discurso, suas práticas, não às consequências que podem ter se manifestado por causa dela ou a pretexto dela. É bem razoável a discussão sobre a livre interpretação das Escrituras, sobre os sacramentos, sobre as formas religiosas; tudo isso é salutar. No entanto, condenar o protestantismo por aquilo que foi feito de errado sob seu nome é demais. Quem faz isso pode estar trazendo condenação sobre a própria Igreja que pretende preservar.

Isso porque se a Reforma Protestante é responsável por eventuais erros ocorridos depois dela, por que a própria Igreja Católica não pode ser responsável pela Reforma, afinal, esta apenas existiu por causa daquela! Aliás, a Reforma Protestante nada mais é do que um movimento ocorrido no seio da própria igreja Católica. Não é porque passaram-se 1200 anos que uma instituição não pode se responsabilizada por algo que ocorreu dentro de seus domínios. Se a Reforma é culpada pela modernidade, a Igreja Católica é culpada pela Reforma e, portanto, culpada pela modernidade.

Qualquer instituição ou movimento apenas pode ser responsabilizado pelos princípios que sustenta pelas bandeiras que levanta, pelas ideias que proclama. E basta ler os sínodos, as confissões e os escritos dos reformadores para vermos que a loucura do mundo moderno não é defendida por nenhum deles. Pelo contrário, os protestantes que se mantém fiéis aos princípios da Reforma, assim como os católicos que permanecem sobre os fundamentos do catolicismo, se encontram do lado oposto aos valores deste mundo contemporâneo. Portanto, não são eles os responsáveis pelo que vivemos nestes dias.

Se seguíssemos a mesma lógica de alguns críticos do protestantismo, diríamos que, da mesma maneira que a Reforma é culpada pelas doenças da modernidade, Deus é culpado pelo pecado, que nada mais é do que a enfermidade humana.

Graças a Deus não pensamos dessa maneira!

7 comentários:

  1. Seria as mais de 35 mil seitas protestantes fieis aos princípios da reforma? Todas seitas alegam que inspirados pelo espirito santo tem a interpretação correta da bíblia.
    Quando um não concorda do que ensinado, ele interpreta ao seu desejo a bíblia, quando a bíblia diz algo que ele não goste ele troca as palavras para atendeu seu desejo.
    Fiel ao seu ego, não a Deus, inventando um deus que lhe agrade, que atenda seus desejos. Esse é o principio dos protestantes, Lutero foi assim.
    E tem mais por traz da reforma do que problemas de discussão sobre interpretação da bíblia, os reformadores são os atores e figurantes, o interesse maior esta por trás nos bastidores que poucos conseguem perceber.

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    1. Caro Glauco, me permita fazer algumas considerações sobre seu comentário:

      "Seria as mais de 35 mil seitas protestantes fieis aos princípios da reforma? Todas seitas alegam que inspirados pelo espirito santo tem a interpretação correta da bíblia."

      Se não, as que fugiram daqueles princípios devem responder pelos efeitos de suas escolhas.

      "Quando um não concorda do que ensinado, ele interpreta ao seu desejo a Bíblia, quando a Bíblia diz algo que ele não goste ele troca as palavras para atendeu seu desejo"

      Isso é uma generalização. O bom cristão protestante não interpreta a Bíblia segundo sua vontade, mas segundo a verdade da Revelação escrita, que é uma só.

      "Fiel ao seu ego, não a Deus, inventando um deus que lhe agrade, que atenda seus desejos. Esse é o principio dos protestantes, Lutero foi assim"

      Outra generalização e subjetivista demais para ser contestada.

      "E tem mais por traz da reforma do que problemas de discussão sobre interpretação da bíblia, os reformadores são os atores e figurantes, o interesse maior esta por trás nos bastidores que poucos conseguem perceber."

      O meu texto trata apenas da questão da modernidade, que é bem específica.

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    2. Olá Fabio, acesso uma vez ou outra seu blog, gosto do que você escreve, mas quando li sobre protestante fiel fiquei atiçado a responder.
      Vou lhe questionar sobre suas considerações.
      Quanto você diz que o que escrevi é uma generalização, pode até ser, assim como você tratou protestantes de forma genérica. Você também trata as malesas da modernidade de forma genérica. Nem sei por onde começar a comparar a reforma protestante com que realidade moderna.
      Agora o que seria Revelação escrita? Jesus não veio aqui e escreveu verdades ou leis para o homem seguir. Ele escolheu 12 homens a quem ensinou e também fundou a sua igreja. O que foi escrito é o testemunho do que foi ensinado por quem cristo ensinou. Só existe Novo Testamento porque existiu a igreja, foi ela que manteve a doutrina na direção correta e separou o que é certo e o que era heresia no inicio do cristianismo.
      Outra coisa que acho engraçado, o que é um bom cristão protestante? Só cristãos protestantes podem ser bons ou um mulçumano homem-bomba também pode ser bom? Sei que uma coisa é bem diferente da outra, a questão é o que é ser bom? Se existem mais de 35 mil seitas protestantes, qual é o principio para sair as criando?
      Para fechar, sobre cada seita protestante interpretar ou mudar o texto bíblico, deixo dois link para você ler sobre Lutero e outro sobre novas traduções bíblicas.
      http://www.paraclitus.com.br/2013/destaques/martinho-lutero-os-absurdos-pregados-pelo-pai-do-protestantismo-evangelico/
      http://www.veritatis.com.br/apologetica/protestantismo/1301-a-doutrina-luterana-da-salvacao
      http://www.apologistascatolicos.com.br/index.php/apologetica/protestantismo/462-sola-scriptura-adulterada-na-ntlh

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  2. Oi Glauco: talvez fique difícil entender o que eu digo se você me olhar como um protestante defendendo sua igreja. Não sou e tenho horror a ser isso. Apesar de ter crescido na igreja protestante, tenho muito mais ressalvas em relação a ela do que você poderia imaginar. Quando falo de Revelação escrita e de bom protestante, me refiro a como um protestante se vê e não como necessariamente é na verdade. Apenas acho que a acusação de relativismo feita contra os protestantes é exagerada, porque o relativismo é uma forma de ver o mundo e o protestantismo não vê o mundo de maneira relativa. Ele apenas entende que a verdade está no texto revelado, em seu sentido único. O protestante quebra o monopólio da CAPACIDADE interpretativa, mas não relativiza a interpretação.

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  3. Não vamos nem falar de Henrique VIII, o bígamo assassino. Ou de Lutero, o blasfemo. Falemos de Calvino, o teocrata maluco. Sua teologia da predestinação, ajudou a criar um país maluco chamado EUA. Superpotência que está sendo responsável pela destruição do Ocidente, e sua gigantesca tradição cultural.
    Robson di Cola

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    1. Artigo complementar sobre a Reforma na Inglaterra: http://protestantismo.ieadcg.com.br/reforma/reforma_inglesa_Henrique.htm

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  4. Quanta besteira dita pelo Glauco e pelo Robson. Haja paciência para lidar com isso, Fabio.

    Sobre as "33 mil denominações":
    http://firmefundamento.com.br/index.php?pagina=1628656207_07

    No mais, muitos papas foram completos hedonistas no âmbito moral, e nem por isso a Fé Católico foi abalada. Lutero e Calvino não eram santos. E Henrique VIII não foi um grande teólogo protestante. Não confunda as coisas. Ou você acha que os mortos na Reforma Anglicana, morreram em nome da Sola Fide e da Sola Scriptura?

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